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O estranho "Efeito McGurk"

Publicado em 3 de março de 2017

Quando há um conflito entre o discurso visual e a fala auditiva, pode ocorrer uma percepção completamente diferente da mensagem original.    



É muito fácil perceber que um filme estrangeiro está mal dublado: os sons que você ouve saindo das bocas dos atores não parecem corresponder aos movimentos que você vê nos lábios.

Em outras palavras, mesmo quando nossa visão e audição estão sendo estimuladas ao mesmo tempo durante o filme, nossos cérebros fazem um trabalho muito bom em assimilar os movimentos dos lábios com os sons emitidos.

Mas o cérebro também pode ser enganado. Em uma ilusão intrigante conhecida como Efeito McGurk, observar os movimentos dos lábios de uma pessoa pode enganar o cérebro a ouvir o som errado.

O efeito McGurk ocorre quando há um conflito entre o discurso visual, ou seja, os movimentos da boca e dos lábios de alguém, e a fala auditiva, que são os sons que uma pessoa ouve. Isso pode resultar na percepção completamente diferente da mensagem original.                                              

Agora, em um novo estudo, neurocientistas do Baylor College of Medicine, em Houston, tentaram oferecer uma explicação quantitativa de como o efeito McGurk ocorre. Eles desenvolveram um modelo de computador que foi capaz de prever com precisão quando o efeito McGurk deve ou não deve ocorrer em pessoas, de acordo com os resultados publicados na revista PLoS Computational Biology.

Na demonstração do efeito McGurk usada no estudo, o participante é orientado a manter seus olhos fechados enquanto ouve um vídeo que mostra uma pessoa fazendo os sons "ba ba ba". Depois, o indivíduo é solicitado a abrir os olhos e assistir a boca da pessoa de perto no vídeo, mas com o som desligado. Então, a aparência é de que a pessoa está dizendo "ga ga ga". Na etapa final do experimento, o mesmo vídeo é reproduzido, mas desta vez o som está ligado, e o participante é solicitado a manter seus olhos abertos. As pessoas que são sensíveis ao efeito McGurk relatam a audição "da da da" - um som que não corresponde aos sinais auditivos ou visuais previamente vistos.



Isso acontece porque o cérebro está tentando resolver o que pensa que está ouvindo com um som mais próximo do que visualmente vê. Se a pessoa fechar os olhos novamente, e o som do vídeo for repetido, ela ouvirá mais uma vez o som original de "ba ba ba".

O efeito foi descrito pela primeira vez em um experimento feito em 1976 pelos psicólogos Harry McGurk e John MacDonald, que mostrou que a informação visual fornecida pelos movimentos da boca pode influenciar e substituir o que uma pessoa pensa que está ouvindo.

Prevendo a ilusão

O efeito McGurk é uma poderosa ilusão multissensorial, disse o co-autor do estudo, John Magnotti, doutor no departamento de neurocirurgia da Baylor. "O cérebro vai tomando discurso auditivo e discurso visual e colocando-os juntos para formar algo novo", diz ele. Quando as pessoas estão tendo uma conversa cara-a-cara, o cérebro se envolve em atividades complicadas, como tentar decidir como colocar os movimentos labiais em conjunto com os sons de fala que são ouvidos.

No estudo, os pesquisadores também tentaram entender por que o cérebro tinha mais facilidade em colocar determinadas sílabas em conjunto para interpretar corretamente o som ouvido, e dificuldade em outras sílabas, disse Magnotti.

Para fazer isso, seu modelo baseava-se em uma ideia conhecida como inferência causal, um processo no qual o cérebro de uma pessoa decide se os sons de fala auditivos e visuais foram produzidos pela mesma fonte. O que significa que os sons vêm de uma pessoa falando, ou de várias, então você está ouvindo a voz de uma pessoa, mas olhando para outra pessoa que também está falando ao mesmo tempo.

Outros pesquisadores desenvolveram modelos para ajudar a prever quando o efeito McGurk pode ocorrer, mas este novo estudo é o primeiro a incluir inferência causal em seu cálculo, o que pode ter melhorado a precisão do novo modelo em comparação com os modelos de previsão anterior.

Para testar a precisão de seu modelo de previsão, os pesquisadores recrutaram 60 pessoas e pediram para ouvirem pares de fala auditiva e visual de um único orador. Em seguida, os participantes foram convidados a decidir se eles achavam que ouviram o som "ba", "da" ou "ga".

Seus resultados mostraram que o modelo que desenvolveram poderia prever de forma confiável quando a maioria dos participantes envolvidos experimentaria o efeito McGurk. Mas, como esperado de seu cálculo, "havia também algumas pessoas que não eram suscetíveis a ele", disse Magnotti.
Fato interessante é que, quando este mesmo teste foi feito com estudantes na China, do mesmo jeito que foi feito nos EUA, provou-se que o Efeito McGurk também ocorre em outras línguas.

De acordo com Magnotti, os modelos de computador desenvolvidos para este estudo também podem ter alguns usos práticos. Por exemplo, o modelo pode ser útil para empresas que produzem computadores que trabalham com reconhecimento de voz, como algum produto da Google ou Amazon.

O modelo também pode ajudar as crianças com implantes cocleares (dispotivos auditivos), melhorando a compreensão dos pesquisadores de como o discurso visual afeta o que uma pessoa ouve.


Fonte(s): LiveScience